Há 40 anos, Rita Lee torcia por um futuro melhor. Não queria luxo. Não queria lixo. Pedia por saúde. “Pra gozar no final”. É intrigante e poético encarar o tempo. Um senhor que se recusa a parar, implacável e inevitável. Inspirador, também.
Assim fez Rita Lee no álbum homônimo, mas mais conhecido como “Lança Perfume”, lançado em 1980, com a música “Nem Luxo, Nem Lixo”.
Quatro décadas depois de escrever e cantar sobre o futuro em um disco histórico, Rita está aqui e goza o agora. Deixou os palcos, vive com o marido, músico e produtor Roberto de Carvalho, curte netos e a chegada da velhice escancarada pelos fios brancos não mais tingidos com a icônica coloração vermelha.
Rita é uma das artistas brasileiras mais deliciosas de se entrevistar. Mesmo em um papo virtual, por e-mail. O que poderia ser uma aparente frieza é transformado em uma troca afetuosa. É de ler cada palavra e ouvi-la sendo dita. Algo mágico, mesmo. E, descolada, usa até emojis nas respostas.
Rita Lee e Roberto de Carvalho toparam conversar com a coluna com o gancho dos 40 anos de aniversário do álbum citado acima, doravante chamado de “Lança Perfume” para evitar confusões. O disco ganhou uma reedição comemorativa, em vinil (com a bolacha translúcida, linda demais), pela Universal Music. O álbum “mudou” de nome graças ao pop efervescente e carnavalesco da primeira faixa do álbum, a música “Lança Perfume”, é claro, uma faixa que estourou no Brasil, mas também fora, em lugares como França e Estados Unidos. Foi um disco importante para a carreira de Rita e de Roberto de Carvalho. Depois de Rita revolucionar a Tropicália com Os Mutantes e de fazer ruído com a fase roqueira solo, ela e Roberto prepararam “Lança Perfume”, um disco bem blockbuster com músicas pop de DNA brasileiríssimo.
É um álbum tão solar quanto aquele fenômeno do sol da meia-noite nos países nórdicos – quando a luz do sol dura 24 horas. “Lança Perfume” é, 40 anos depois, um disco de hits. Você pode cantar o álbum do começo ao fim mesmo que não seja especialista na obra de Rita Lee. “Bem-Me-Quer”, “Baila Comigo” (escrita em cinco minutos, após um sonho), “Caso Sério”, “Nem Luxo Nem Lixo” são deliciosas, irônicas, lascivas, rebeldes.
É também um disco sobre amor. Sobre a paixão arrebatadora que uniu Rita e Roberto até hoje (eles iniciaram o romance quatro anos antes do lançamento deste álbum). Rita e Roberto, o casal mais genial e inspirador da música brasileira, responderam às questões sobre o álbum quarentão em meio às declarações fofas como “minha mulher é gênia” e “dona da voz mais sexy que conheci na vida”, e informações de que músicas inéditas estão prestes a sair do forno do sítio onde moram.
Transcrito da coluna de Pedro Antunes, do uol.com.br