A educação no Brasil enfrenta um desafio monumental, conforme revelado por dados recentes do Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Mais da metade das crianças do segundo ano do Ensino Fundamental na rede pública não conseguiram adquirir as habilidades básicas de leitura e escrita.
Essa realidade, destacada pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, é alarmante por si só. No entanto, a pandemia de covid-19 veio intensificar ainda mais essa crise, elevando o número de crianças não alfabetizadas para quase 40%.
Este cenário desolador não é apenas uma consequência da pandemia, mas também de problemas estruturais enraizados na história educacional brasileira. Renato Bulcão, em seu livro “Tratado da má educação”, mergulha nesse contexto complexo, comparando as práticas educacionais brasileiras com as de outros países como China, Japão, Espanha e Finlândia.
Uma das questões fundamentais abordadas é a precariedade das instalações escolares. De acordo com o Tribunal de Contas da União, mais da metade das salas de aula no Brasil não oferecem um ambiente propício para o aprendizado. Essa falta de estrutura não só prejudica o ensino, mas também desestimula os alunos.
Além disso, a evasão escolar, especialmente entre a população negra, revela um problema de discriminação racial que permeia o sistema educacional. Dos 10,1 milhões de jovens que não completaram alguma etapa da educação básica, mais de 70% são pretos ou pardos. Essa exclusão, argumenta Bulcão, é resultado de políticas educacionais historicamente voltadas para a manutenção de uma elite privilegiada.
O autor aponta para a existência de uma política do Ministério da Educação (MEC) que remonta aos anos 1930, perpetuando um sistema que marginaliza os pobres e perpetua o preconceito e o autoritarismo nas escolas. Essa exclusão, segundo Bulcão, cria uma espécie de “neoescravidão”, onde os jovens são destinados a se tornarem mão de obra barata e desqualificada.
Essa realidade é evidenciada pela preferência do Estado em investir em policiamento em detrimento da educação básica. O resultado é um ciclo vicioso de desigualdade, onde as oportunidades são escassas e as perspectivas limitadas. Enquanto isso, o desperdício de talentos e potenciais é uma realidade lamentável que assola a nação.
O “Tratado da má educação” lança luz sobre um sistema que falha em cumprir sua missão fundamental: proporcionar igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. Enquanto essa crise persistir, o Brasil continuará a desperdiçar seu maior recurso: o potencial de sua juventude.